27 setembro 2010

Do recital na pérgula que me trouxe à razão

Hoje acordei assim, querendo ser Beyoncé, e quebrar os quadris loucamente, receber milhares de aplausos febris, sem que ninguém me rotule, participar das maiores festas com os vestidos mais glamurosos e com cabelos de causar inveja à mais nobre mortal... mas, ah! Não quero ser dançarina de profissão...

Hoje acordei assim, com uma história na cabeça e centenas de palavras nas pontas dos dedos para escrever um livro, daqueles que nos prendem da primeira página até o último suspiro do mocinho, a última maldade do vilão e um desfecho inesperado, causando comoção até no mais sisudo leitor... mas, ah! Não gosto de escreve sob pressão...

Hoje acordei assim, louca para comprar um Subaru e correr com ele pelas estradas cheias de carrinhos ridículos e seus motoristas enfatuados, achando que as rodovias expressas são passarelas abertas à seus desfiles de arrogância e prepotência... mas, ah! Não quero dirigir na contramão...

Hoje acordei assim, com ares de atriz de cinema mudo, maravilhosa e adorada, sem precisar dizer palavra, expressando as emoções dos personagens com olhares penetrantes e cáusticos, daqueles capazes de por aos meus pés homens alheios a moral... mas, ah! Não gosto de comédia pastelão...

Hoje acordei assim, totalmente eu, mas claramente fora de mim, sapateando na chuva ácida sem sentir dor, como criança que só quer se molhar e brincar, sem reclamar do frio, sem olhar para o céu e saber das horas, muito além da capacidade da minha imaginação... mas, ah! Não seria tudo isso apenas ilusão?


*** para ouvir: (Another Song) All Over Again -  Justin Timberlake ***

2 comentários:

aluisio martinns disse...

nao vejo ilusão alguma e nesta que li vi o que me vi e sei ser esta a arte maior, universalizar o que nos parece individuo, me senti e assitis cada cena linda e sorri, chorei, sofri e m alegrei com a tua alma poeta.
parabéns pela maestria que mais é porque tem a valia do sentimento real que luta contra ilusões plásticas.
abs

Cris disse...

Que delícia! Lido e adorado!
A cada texto uma nova poeta se forja. Parabéns!